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As chamas do céu

Na manhã de 26 de fevereiro de 1905, a força policial do condado de Hampshire foi chamada para investigar um estranho incêndio que aniquilou um casal de idosos residente no pequeno povoado inglês de Butloeks Heath., nas proximidades de Southampton. Os corpos carbonizados do senhor Edward Kiley e de sua esposa foram encontrados pelos; bombeiros após os vizinhos terem avistado fumaça saindo do bangalô do casal. O socorro chegou muito tarde para salvá-los, porém o que chocou mais profundamente os bombeiros não foi propriamente o falecimento do casal, mas as circunstâncias de sua morte. Embora os corpos do senhor Edward Kiley e de sua esposa tenham sido consumidos pelas chamas a ponto de não se poder mais reconhecer sua forma humana, o tapete, as cortinas e outros materiais inflamáveis no quarto à volta do local onde os dois morreram permaneciam, na sua grande parte, em perfeito estado. Além disso, a ausência de chamas ou de causas aparentes de incêndio desafiava qualquer explicação lógica. No inquérito que se seguiu, fotografias das figuras enegrecidas dos Kiley, ainda sentados em suas poltronas favoritas, gelou o sangue dos jurados, e o médico-legista só conseguiu comentar que o casal provavelmente perdeu suas vidas por obra de algum tipo de acidente, embora “não esteja clara a maneira como aconteceu”. O incidente de Butlocks Heath não é de modo algum o único desse tipo. A cada ano surgem, em todos os cantos do mundo, notícias de pequenos, porém, significativos grupos de tragédias relacionadas a incêndios que não se enquadram em qualquer categoria reconhecível. Freqüentemente, por serem tão bizarras as circunstâncias dessas mortes, elas permanecem sem classificação, enquanto, em outros casos, o simples fato de terem ocorrido é oficialmente ocultado. A combustão humana espontânea, a autoincineração gerada no interior do próprio corpo, é um mito nos órgãos oficiais que lidam com casos desse tipo. Tão grave é a determinação de ocultá-los e tão ampla é a conspiração para camuflar os indícios de sua realidade que, no decorrer dos anos, médicos, cientistas, patologistas, policiais, enfermeiras e membros do
corpo de bombeiros e dos serviços ambulatoriais envolveram-se todos, em diversas ocasiões, em uma extraordinariamente intrincada rede de fraudes. A ocultação desses fatos visa, claramente, a proteger o público em geral do conhecimento dessa forma aflitiva e imprevisível de perigo natural. As verdadeiras razões são, no mínimo, mais complexas. A combustão humana espontânea (CHE) 3, a despeito de ser uma das mais horríveis formas da morte, é, de fato, impossível; impossível no sentido de que seus diversos paradoxos desafiam virtualmente todas as leis estabelecidas da física.

3 Do inglês spontaneous human combustion, cuja sigla é
SHC. (N. do T.)

“Um fato contrário à natureza” foi como um médico habilmente se referiu a ela, e tão grandes são suas contradições à lógica, que a maioria dos cientistas se sente inibida em realizar estudos experimentais. Simplesmente não há como o tecido humano gerar os altíssimos níveis de calor necessários à calcinação da estrutura óssea, embora esse fato esteja sempre presente em casos de CHE, mesmo quando as vítimas tenham sido incineradas e suas roupas permaneçam intactas. Hoje em dia, dois séculos depois desse fenômeno ser identificado por médicos, poucos profissionais da medicina encontram-se aptos a discuti-lo, e a maior parte da população ignora tranqüilamente essa presença mortal em nosso meio. Apenas os amigos e parentes das vítimas e aqueles que testemunharam diretamente seus efeitos terríveis conhecem o fenômeno. Exemplos da ocultação dessas ocorrências são facílimos de encontrar. Em 1972, um cientista forense, o doutor Keith Simpson, foi entrevistado por jornalistas após investigar a horrível combustão de Edith Thompson, uma mulher que se transformou em uma bola de fogo diante dos olhares estarrecidos de diversas testemunhas em um velho edifício público. Ignorando o aspecto bizarro da morte da mulher, o cientista simplesmente negou qualquer prova do fenômeno de CHE, alegando que, em quarenta anos de prática médica, jamais se deparou com uma morte por fogo que não pudesse ser explicada racionalmente. Em vez de realizar investigações complicadíssimas, alguns oficiais preferiram apresentar explicações naturais ridículas. Quando, em janeiro de 1979, o corpo de uma viúva em Yorkshire foi encontrado inteiramente queimado dos joelhos para cima, um porta-voz da polícia insistiu que algo originado no fogão aberto teria atingido a mulher, a despeito de não haver nada na grelha. Da mesma forma, o breve inferno que consumiu outra mulher de Yorkshire em 1981 foi ridiculamente atribuído a um cigarro aceso, apesar de a mulher não fumar. Essa recusa oficial em reconhecer as provas freqüentemente irrefutáveis é desanimadora, pois aqueles que ficaram de luto por causa de uma situação tão fora do comum certamente se viram envolvidos em uma confusão de superstições e boatos sobre punição divina, enquanto, ao mesmo tempo, é negada qualquer esperança de chegarem a um acordo a respeito do que sabem. Testemunhas podem ser pressionadas a mudar seus depoimentos de modo a adaptá-los a uma explicação natural, havendo inclusive indícios de que algumas delas tenham enlouquecido ou mesmo se suicidado. Qualquer que seja a alegação dos especialistas, a combustão humana espontânea definitivamente existe, e as pessoas que estudam os paranormais já reuniram centenas de exemplos testemunhados em todo o mundo ocorridos no século XX. Dentre eles, talvez o mais arrebatador seja o das pessoas que sofreram um ataque de chamas desse tipo e sobreviveram a ele. Embora seja um fato extremamente raro, não se pode mais duvidar de que essas combustões parciais ocorrem. Em dezembro de 1916, o norte-americano Thomas Morphey, proprietário de um hotel em Dover, Nova Jersey, encontrou sua governanta, Lílian Green, ardendo no chão da sala de estar; ela ainda estava consciente, porém incapaz de dar-se conta das chamas que em instantes engolfaram-na. Em 1942, Aura Troyer, escriturária de um banco em Ilinois, foi encontrada em chamas no local onde estava trabalhando. Falando mais tarde sobre sua provação, Troyer só conseguia dizer que “aconteceu em um piscar de olhos”. As duas vítimas sofreram lesões muito sérias no corpo inteiro. Raríssima sorte teve outro norte-americano, Jack Angel, que, em novembro de 1974, foi inexplicavelmente incendiado enquanto dormia no seu trailer em Savannah, no estado da Geórgia. Angel foi dormir em 12 de novembro e acordou quatro dias depois com sua mão direita carbonizada e com diversas queimaduras menos sérias em seu peito, pernas e costas. Não havia vestígios de fogo no veículo, e Jack Angel não conseguia lembrar-se de nenhum detalhe do incidente. Outra pessoa a sofrer um ataque do fogo misterioso
foi a senhora Jeanna Winchester, que irrompeu em chamas no seu carro em Jacksonville, na Flórida, em 9 de outubro de 1980. Apesar de Winchester ter sofrido queimaduras graves, o estofamento de couro branco em que ela estava sentada não foi danificado. Investigando o incêndio, o agente de polícia T. G. Hendrix comentou que nunca vira algo parecido em seus 12 anos de serviço. No hospital, várias semanas mais tarde, a senhora Winchester, falando sobre o seu sofrimento, relutou em admitir que o fato resultasse da combustão humana espontânea. “A princípio, achei que devesse haver uma explicação lógica, mas não consegui encontrar nenhuma. Então imagino que era realmente eu quem queimava. Mas por que tinha de ser eu?” A senhora Winchester não é a primeira pessoa a fazer a si mesma essa pergunta, pois, como a existência da CHE está prestes a ser finalmente estabelecida, foi muito menos fácil imaginar a possível causa. Alguns acreditam que ela está relacionada a anomalias do campo geomagnético; outros, a fenômenos atmosféricos tais como globos de luz. Contudo, há uma terceira corrente de opiniões afirmando uma possibilidade muito mais aterrorizante — a de que a força por detrás da bola de fogo interna é dirigida por uma inteligência maligna. Mais uma vez o ano de 1905 proporciona um exemplo inglês que foi usado por vários escritores a fim de promover essa teoria. Em dezembro daquele ano, uma série de eventos fora do comum, culminando com o sacrifício de mais de 250 galinhas e gansos em uma fazenda em Linconshire, próxima a Binbrook, iniciou-se na mesma semana em que uma jovem atendente irrompeu em chamas na cozinha do reverendo A. C. Custance, que morava em um distrito vizinho. Nem a morte da garota e muito menos os ataques aos animais foram satisfatoriamente explicados. Toda as aves foram executadas da mesma maneira horrível: a pele em volta de seu pescoço foi puxada da cabeça ao peito e suas traquéias, tiradas de sua posição original e quebradas. Seria possível, indagavam alguns teóricos, que uma entidade invisível com a mente maligna e sádica tenha destruído sistematicamente as vidas da garota inocente e das criaturas inofensivas, assassinando-as de maneira tão repulsiva — respectivamente pelo fogo e estrangulamento? No livro Lo!, Charles Fort, veterano colecionador de anomalias, afirma claramente sua suspeita de que um ser de apetite incendiário manifestou-se por algum tempo na Inglaterra rural eduardiana. “Se aceitarmos o fato de que algo estava assassinando galinhas de maneira selvagem na fazenda de Binbrook, teremos de admitir também que alguma coisa que reconhecemos como um ser esteve lá.” Da garota Fort diz o seguinte: “...sem que ela soubesse, algo às suas costas estava queimando-a e a moça não tinha consciência de sua pele chamuscada.” Não é difícil entender por que muitas pessoas tinham dificuldade de aceitar as conjecturas de Charles Fort. Mas, o que quer que achemos de sua análise, não se pode mais questionar seriamente a existência da combustão humana espontânea.


Fonte: Almanaque Sobrenatural

PS: Desculpem o texto tão grande mas eu não tive tempo de reescrever mais resumidamente.

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About Daniel de Araujo

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