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Exorcismo é um negócio lucrativo na Indonésia

O indonésio, que já está até aqui com engarrafamentos, enchentes e outros problemas de infraestrutura, vem buscando a ajuda de exorcistas e xamãs para lidar com outro entrave ao crescimento: os jinns, seres sobrenaturais acusados de provocar pandemônio em canteiros de obras e afugentar operários.

Várias vezes ao ano, Agus Yulianto dirige um de seus carros esportivos até uma nova obra no centro de Jacarta, abate um búfalo com um facão e enterra a cabeça do bicho entre os alicerces do edifício. Tudo para apaziguar os espíritos, mais conhecidos no mundo ocidental como "gênios".

Quanto cobra? Um bilhão de rúpias, ou algo como US$ 104.000, incluindo o búfalo. É cerca de US$ 20.000 a mais do que cobrava no ano passado. "O negócio vai bem", disse Yulianto, que tem 50 anos e é mais conhecido como Ki Joko Bodo: um dos xamãs mais famosos da Indonésia.

Segundo antropólogos, o jinn — que no Alcorão é descrito como um ser feito de "fogo sem fumaça" — parece exercer mais influência do que nunca na Indonésia. É que o crescimento econômico do país de maioria muçulmana estaria expulsando os espíritos de lugares onde eles tradicionalmente viviam, levando incorporadoras a pagar uma bolada a Yulianto e a outros xamãs para conseguir alguma proteção contra um possível revide dos demônios.

"Isso é muito comum aqui", disse um executivo indonésio de uma consultoria imobiliária estrangeira em Jacarta. "Os clientes dizem que não acreditam, mas querem aparecer fazendo o que é visto como certo".

A crença em espíritos e feitiçaria é incrivelmente comum entre os 240 milhões de habitantes da Indonésia. É fruto, em parte, de velhas tradições pré-islâmicas do lugar. Mais da metade dos indonésios que participaram de uma pesquisa recente feita pelo centro de estudos americano Pew Research Center disse que acredita em gênios; 69% dizem acreditar em magia negra e bruxaria.

Essa crença pega gente de todos os estratos sociais. Em 2009, o presidente Susilo Bambang Yudhoyono reclamou que certos adversários estavam usando magia negra contra ele.

Ano passado, quando um vigia em Bandung foi demitido por ter chutado uma estudante fantasiada de espírito, milhares de indonésios saíram em sua defesa. Alguns até criaram uma página no Facebook para ajudar o segurança a se defender. Para eles, o vigia estava apenas fazendo seu trabalho.

À medida que a Indonésia — um dos países do mundo que mais crescem — vai enriquecendo, a tendência das pessoas é buscar com mais frequência alguma forma de ajuda sobrenatural, explica Mary Steedly, professora de antropologia da Universidade de Harvard e estudiosa do tema.

"É um fenômeno urbano, uma coisa de classe média que está associada com a modernidade e o progresso", disse Steedly. "Não tem nada a ver com a retomada de velhas tradições. É uma maneira de lidar com um presente que não para de mudar e com um futuro incerto".

Para quem não pode pagar por alguém famoso como o xamã Yulianto — que, é bom lembrar, já protagonizou vários filmes de terror nacionais —, há classificados nas últimas páginas de revistas como a "Misteri", que traz as últimas notícias sobre a impressionante fauna de assombrações, vampiros e, claro, jinns da Indonésia.

Ao lado de anúncios de cremes para aumentar os seios e de pílulas para turbinar a virilidade, xamãs barateiros oferecem feitiços e encantamentos a preços módicos para, entre outras coisas, causar impotência no marido que trai a mulher.

"Há muita gente perdida na Indonésia", disse o editor da "Misteri", Yon Bayu Wohyono, na redação da revista, um prédio de dois andares com vista para um fétido canal. "O que fazemos é dar um meio de escape, só isso".

Em sua mansão nos subúrbios de Jacarta, o xamã Yulianto diz acreditar que a onda de investimento estrangeiro que está inundando a Indonésia, assim como a influência de facções árabes mais conservadoras do islamismo em algumas partes do país, só vão aumentar a demanda por seus serviços.

"A ponte entre os dois mundos — entre humanos e jinns — está sendo quebrada", disse. "Eu posso ajudar os espíritos a aceitar o que está acontecendo."
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