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A PÁSCOA DE TRAVIS

Todo ano é a mesma coisa, as crianças acordam cedo e começam a caça aos ovos de páscoa, e passam o resto da semana felizes se fartando de chocolate. Mas lembro de uma páscoa nada agradável na pequena São José do Rio Pardo há uns vinte e dois anos atrás. Eu era pequeno mas lembro como se fosse hoje.

Meu tio e seu amigo Jorge chegaram da cidade com uma caixa de madeira. Eles estavam eufóricos, encontraram a caixa na beira da estrada, provavelmente ela caiu de um dos caminhões que vinha de São Paulo.

Eles pegaram a caixa e colocaram no chão, me lembro das letras vermelhas que marcavam as laterais com a palavra DANGER. Perguntei o que significa mas meu tio e o Jorge se enrolaram para explicar. Só depois de alguns anos vim saber que significava perigo. Mas já era tarde...

A caixa estava bem lacrada, e os dois suaram para abrir. Tentaram com faca, com chave de fenda, mas só conseguiram depois de forçar muito com um pé de cabra. Para nossa surpresa a caixa estava repleta de ovos. Enormes e suculentos ovos de páscoa, protegidos por isopor e espuma.

Como o próprio Jorge disse, aquilo era “largura” de mais. Muita sorte eles encontrarem tantos ovos justamente na véspera da Páscoa.

Oito ovos que meu tio dividiu espertamente. Deu dois para Jorge, um pra mim, outro para o Travis e ficou com quatro. Divisão bem generosa.

Eu já conhecia a esperteza do meu tio, desde os cinco anos eu passava as férias e feriados na sua fazenda. Ele era uma espécie de super herói pra mim. Um super “Jeca”, metido a valentão e conhecedor de muitos contos e causos do interior. Suas histórias eram fantásticas. Ele morava com minha avó e seu filho Travis que era dois anos mais velho que eu. Jorge era seu melhor amigo, eles se conheciam desde pequenos. Era como a velha dupla O gordo e o Magro que eu cansei de ver na tv. Era muito divertido ver os dois jogando baralho ou dominó.

Meu tio era trapaceiro por natureza e Jorge era ingênuo como uma criança. Travis seguia o caminho do pai, era uma praga, birrento, mentiroso e sempre aprontava. O pior é que quando eu ia pra lá acabava fazendo parte das suas confusões. Ele tinha uma lábia tão grande que era difícil acreditar que era tão novo.

Minha avó disse para abrirmos os ovos só no Domingo, mas Travis não queria esperar, e a noite enquanto todos dormiam ele foi me acordar, disse que tinha um plano maravilhoso. Queria comer os ovos de páscoa.

Eu disse que não abriria meu ovo de maneira alguma. E ele com aquele olhar maroto olhou pra mim e falou que não era os nossos ovos que ele queria comer. Ele me disse que o Jorge sempre dormia como um bebê após tomar todas as cachaças possíveis e que ele jamais desconfiaria se pegássemos os dois ovos que meu tio tinha lhe dado.

Eu relutei e tentei não cair em tentação em comer aqueles ovos maravilhosos. Mas minha boca encheu d’água. Acabei cedendo.

Atravessamos a fazenda na mais completa escuridão. É horrível. Parece que os ouvidos ficam aguçados e qualquer som vindo da mata parece amedrontador.

Depois de alguns minutos na velha trilha, chegamos a velha casa de Jorge, era horrível, a casa parecia abandonada há anos. As portas e janelas estavam abertas como toda casa no interior, livre de qualquer violência. E como Travis tinha dito, Jorge estava dormindo na sala. Esparramado no sofá, ao lado de um garrafão de vinho completamente vazio.

Atravessamos a sala na ponta dos pés. Travis, por conhecer bem a casa, foi na frente. Ele estava desesperado atrás dos ovos, entramos na cozinha, abrimos os armários e a geladeira e nada... Nem um vestígio de onde ele havia guardado os maravilhosos ovos de páscoa.

Procuramos por toda a casa mas não encontramos um só ovo. Então decidimos ir embora. Mas ao voltar a sala, para nossa surpresa, Jorge não estava mais no sofá. Entrei em pânico, mas meu primo disse para não se preocupar que ele devia estar tão bêbado que nem perceberia a nossa presença.

Ao sairmos pela varanda vimos Jorge caído no chão, meu primo deu um sorriso e disse que ele estava podre de bêbado. E me desafiou.

- Você duvida eu meter um chute na bunda dele?

Eu não duvidei, mas a maldade de Travis era maior. Ele se aproximou e enfiou um pontapé no traseiro de Jorge. Virou pra mim e mostrando o dedo do meio gritou:

- Eu não disse? Está dormindo como um porco. Posso enfiar uma vara na bunda dele que não vai acordar.

Mas nesse momento um bicho muito esquisito pulou nas costas de Travis. Ainda estava escuro e eu não conseguia ver direito. Foi muito rápido. Travis caiu no chão e eu corri para ajudá-lo. Não sei de onde veio tanta coragem. Peguei uma pedra que estava no chão e meti nas costas do bicho. Travis se levantou assustado. O bicho sumiu rapidamente na mata. As costas de Travis estava toda arranhada.

- Não sei que merda de bicho era. Você conseguiu ver? – ele perguntou.

- Não deu pra ver direito, parecia um macaco, parecia um sagui! – respondi

Travis disse que nunca tinha visto algo parecido por ali. Resolvemos voltar mas não antes de colocar Jorge em sua casa, o bicho poderia voltar a atacar.

Jorge era muito gordo e apanhamos para conseguir virá-lo. Mas, quando conseguimos... Travis soltou um jato de vomito no chão e largou os braços de Jorge imediatamente. Sua barriga estava rasgada do começo ao fim. Dava para ver até suas costelas. As entranhas de Jorge estavam esparramadas no mato.

Saímos em disparada, corri como nunca havia corrido na minha vida.

Ao chegar em casa, fomos surpreendidos pelo meu tio. Com uma espingarda em punho e cara de poucos amigos.

- “Ondi” é que vocês “estava”?

- Desculpa pai, foi ele que me acordou e me pediu para ir na casa do Jorge. – disse Travis tomando minha a frente.

Mas meu tio não acreditou na versão de Travis e mirou a espingarda em tal direção.

- Carlinho, sai daí!

- Mas tio, ele não fez nada...

- Saí daí menino...

Ele puxou o gatilho, e manteve a arma na direção do meu primo. Travis pulou pra cima dele e ele disparou dois tiros. Meu primo caiu no chão.

- Meu deus! Tio você matou ele...

- Ele não, meu filho... Mas o danado do bicho que saía da sua barriga...

A barriga do Travis estava totalmente aberta como tinha ficado a do Jorge. Tinha sido a ultima traquinagem do garoto. Antes de querer comer os ovos de páscoa do Jorge ele já havia comido o meu.

Talvez assim tenha salvo a vida do meu tio, da minha avó e também minha própria vida.

Meu tio destruiu todos os estranhos ovos que restaram. E a partir daquele dia, Páscoa pra mim significa DANGER!

Fim...

Coelhinho da páscoa o que trazes pra mim...
Um morto... Dois mortos... Três mortos enfim...

Boa páscoa ae galera e lembre-se páscoa significa DANGER

Conto retirado do site: http://www.contosdeterror.com.br/
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About Victor Ramide

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